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AÇÕES AEILIJ - Trevo de Leituras

Apresentação Mar/2007 Fev/2007 Jan/2007 


FEVEREIRO / 2007


Edna Bueno lê Palavras são pássaros, de Ângela Leite de Souza...

... que lê Eles que não se amavam, de Celso Sisto...

... que lê A Ingrid veio ver o mar, de Edna Bueno.



* * * * *



Palavras são pássaros

de Ângela Leite de Souza 

Resenha de Edna Bueno 


il. Pipida 

Salesianas, 2006 

32 pp.



Haicais e origamis, um livro feito de força e delicadeza. Poesia. Um livro que, mais do que guardar mundos, abre mundos. Convida o leitor a passear pelas diferentes artes de doze artistas levando como bilhete de viagem um alçapão: Palavras são pássaros/ apressados./ É bom ter/ alçapão à mão.

Um alçapão nos olhos, ouvidos, em todos os sentidos: a arte se faz do que se colhe no caminho.  

Do que se vê: meninos brincando, formigas carregando folhas, bandeirinhas, linha do horizonte, campos de trigo, fatia de sol, mata queimada, cisnes que nadam/dançam.  

Do que se ouve: vozes de canário, sabiás no varal, matitaperê.  

Do que pulsa: bruxas e fantasmas, crianças. 

A arte se faz do que se tem às mãos: um mundo que era preto-e-branco e se faz poesia como a terra se faz casa nas mãos do joão-de-barro e a agulha do sonho borda poesia. 


O artista, com suas mãos, desencanta anjos da pedra-sabão, inventa canções bem lá na beirinha do vento, enxerga o Carnaval na labuta das formigas, salpica de corvos um campo de trigo. O artista descobre de onde vem a clave de sol, chora com a rolinha a mata queimada, funda reinos encantados em ribeirões, se faz cartão postal, por que não também o leitor? Por que não? 


Pássaros habitam cada página do livro apontando para esse caminho: armarmo-nos também de alçapões e caminharmos por aí, e não só pelas páginas desse livro, enxergando poesia e sentidos. Palavras-pássaros falam da arte, da Natureza, da simplicidade, juntam artista e obra desenhando mundos: o pio do matitaperê falará para sempre do seu maestro, daquele que lhe escutou. É assim que, na última página, em uma referência a Cecília Meireles e seu poema "Ou isto ou aquilo", ganhamos a possibilidade infinita da escolha em um buquê de flores. Os pássaros já não habitam essa página, deixam as flores. São muitas as possibilidades. 


Origamis e haicais, em grande harmonia, saltam aos olhos do leitor. Os haicais sugerem imagens, os origamis presenteiam com imagens: possibilidades.  

Palavras no papel, imagens feitas de dobraduras de papel: força e delicadeza. Armar alçapões e colher sentidos como quem colhe flores, percorrer os caminhos da poesia. Os caminhos da arte, do belo. 


Um glossário ao final do livro traz uma pequena biografia dos doze artistas citados abrindo seus mundos para o leitor, aguçando a curiosidade de conhecer outros artistas e outros mundos. Palavras são pássaros não é um livro para se fechar ao final da leitura, é um livro que faz abrir, que se abre: asas de um pássaro encantado.


* * * * *



Eles que não se amavam

de Celso Sisto

Resenha de Ângela Leite de Souza








* * * * *



A Ingrid veio ver o mar

de Edna Bueno

Resenha de Celso Sisto


il. Suppa

Global, 2004 

16 pp.



Todo mundo deveria ter, naturalmente, uma atração pela água. Afinal, somos feitos de um grande volume dela! Afinal, enquanto estamos sendo gestados, passamos uma boa parte do tempo dentro de uma bolsa cheia d'água. Será que é por isso que tomamos banho todos os dias? Será que é por isso que todo mundo um dia quer ter visto o mar? 


A história de Ingrid escoa exatamente do desejo de tocar o mar com os pés e com os olhos! Ela e a mãe vão de Minas para o Rio de Janeiro, e se hospedam na casa da Ciça. No dia seguinte, a família da Ciça leva mãe e filha à praia, mesmo o dia estando nublado e com ameaça de chuva... Mas, assim que se aproximam do território das maravilhas, o sol aparece, as crianças brincam com balde na areia, correm das ondas, pulam pra lá e pra cá... Enfim, um passeio coroado pela alegria e pelo sono recompensador, no colo da mãe, dentro do carro, na volta pra casa. 


Contada assim, a história pode parecer comum. Mas não é! Pois quem conta é um menino pequeno, ou melhor, o irmão da Ciça. E contada por ele, a história vai ganhando contornos poéticos, atirando água e bóias para todos os lados, para refrescar nossa memória e nos salvar de possíveis afogamentos - o maior deles talvez seja esquecer a nossa própria infância! O menino vai salpicando sua narração com pequenas paradas, para contar coisas de sua vida, fatos, lembranças, ou tecer comentários sobre o mundo e, principalmente, definir algumas coisas de fundamental importância para uma história que flui e reflui como o mar: o longe e o perto; o mistério da linha do horizonte; o olhar o mar como remédio pra tudo; e a própria definição de mar: "uma água que vinha correndo molhar o pé da gente... virava onda e vinha correndo." 


No final das contas, ou quem sabe, no final do dia, com a maré já nas alturas, fica aquele barulho de mar, típico de quem encostou o ouvido numa concha para ouvir o marulhar, dizendo incessantemente: não basta tocar o mar só com os pés. É preciso ter tocado o mar com o coração... para que ele fique marejando dentro de nós! É exatamente isso que Ingrid faz: na hora de ir embora, fica parada olhando por algum tempo o mar, para tê-lo bem perto, quando estiver em Minas! Ah, Minas Gerais... que guarda outros mares de paixões! Que diga Marília, que diga Dirceu! 


Para estabelecer um diálogo com o texto de Edna Bueno, a ilustradora Suppa usa, como fundo, as texturas de papéis reciclados, e muitos azuis, amarelos e verdes, que deixam no papel a ilusão de um dia claro, alegre e bonito. Também é curioso o movimento dos cabelos dos personagens, que trazem para dentro das páginas, a brisa do mar. E tem ainda os personagens adultos, como figuras esguias, para acentuar a diferença em relação às crianças e seus focos de visão. Tudo coroado pelo movimento ondulado dos desenhos do calçadão da praia de Copacabana... que reprisa o mar para os banhistas e passantes levarem-no, no derradeiro momento, também nos pés! 


Ah! Uma anotação vinda com a última onda: é bom que meninos e meninas vejam, desde cedo, o mundo pelo olhar da poesia. Assim, quem sabe, as palavras possam fazer frente à violência que corre pelas ruas das cidades. E palavra bonita, palavra sentida com toda a força do sentimento, tem o poder de deixar a gente um pouco melhor: mais calmo, mais doce. Ou quem sabe, se invertêssemos o dito que diz que "o sertão vai virar mar" e ficássemos torcendo para que a metrópole fosse invadida pelo mar, não como uma onda devastadora ou como a réplica de uma tsunâmi, mas como essa água poética salgada que se espalha devagar, temperando tudo, mesmo que vivêssemos em Minas Gerais.



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